ATA DA TRIGÉSIMA TERCEIRA SESSÃO SOLENE DA PRIMEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA TERCEIRA LEGISLATURA, EM 18-9-2001.

 


Aos dezoito dias do mês de setembro do ano dois mil e um, reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezessete horas e quarenta e sete minutos, constatada a existência de quórum, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada a homenagear a Semana Farroupilha, à entrega do Prêmio Tradicionalista Glaucus Saraiva ao Senhor Paulo José Dorneles Pires, nos termos do Projeto de Resolução nº 021/01 (Processo nº 1228/01), de autoria do Vereador Elói Guimarães, e à entrega do Prêmio Artístico Lupicínio Rodrigues ao Senhor João Batista Machado, nos termos do Projeto de Resolução nº 004/01 (Processo nº 3070/01), de autoria do Vereador Reginaldo Pujol. Compuseram a MESA: o Vereador Fernando Záchia, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; o Senhor César Iarto, representante do Senhor Prefeito Municipal de Porto Alegre; o Senhor Antônio Augusto Fagundes; os Senhores Paulo José Dorneles Pires e João Batista Machado, Homenageados; o Vereador Ervino Besson, 3º Secretário da Câmara Municipal de Porto Alegre. Em prosseguimento, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem a execução do Hino Nacional e, após, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Adeli Sell, em nome da Bancada do PT, discorreu sobre aspectos singulares da Revolução Farroupilha, especialmente acerca dos ideais de liberdade e soberania que impulsionaram o povo rio-grandense durante esse movimento. Ainda, apontou a importância da preservação da cultura e das tradições gaúchas para a formação das futuras gerações. Após, o Senhor Presidente registrou a presença do Deputado Estadual Osmar Severo, representante da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, convidando Sua Excelência a integrar a Mesa dos trabalhos. A seguir, o Vereador Fernando Záchia convidou o Vereador Reginaldo Pujol, 2º Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, a assumir a presidência dos trabalhos e, após, foi dada continuidade às manifestações dos Senhores Vereadores. O Vereador João Carlos Nedel, em nome da Bancada do PPB, discursou a respeito dos valores tradicionalistas demonstrados pelo povo gaúcho ao longo de sua História. Também, ressaltou a importância da participação dos Senhores Paulo José Dorneles Pires e João Batista Machado nas atividades culturais do Estado, especialmente por divulgarem a música e a poesia rio-grandenses. A Vereadora Clênia Maranhão, em nome da Bancada do PMDB, analisou a conjuntura política e econômica que deflagrou o movimento revolucionário farroupilha no século dezenove, salientando as características de coragem e ousadia que moldaram o espírito do povo gaúcho até a atualidade. Também, felicitou os Senhores Paulo José Dorneles Pires e João Batista Machado pelos prêmios hoje recebidos. O Vereador Elói Guimarães, em nome das Bancadas do PTB, PDT, PSB, PC do B e PL, teceu considerações acerca da importância da Revolução Farroupilha para o desenvolvimento dos valores culturais do Rio Grande do Sul, justificando os motivos que levaram Sua Excelência a propor a concessão do Prêmio Tradicionalista Glaucus Saraiva ao Senhor Paulo José Dorneles Pires. A seguir, o Senhor Presidente convidou o Vereador Elói Guimarães a proceder à entrega do Prêmio Tradicionalista Glaucus Saraiva ao Senhor Paulo José Dorneles Pires. Em prosseguimento, o Vereador Reginaldo Pujol convidou o Vereador Ervino Besson a assumir a presidência dos trabalhos e, após, foi dada continuidade às manifestações dos Senhores Vereadores. O Vereador Reginaldo Pujol, em nome da Bancada do PFL, exaltou os ideais farroupilhas cultivados através da história do Rio Grande do Sul. Ainda, referiu-se à justeza da concessão do Prêmio Lupicínio Rodrigues ao Senhor João Batista Machado, destacando a contribuição de Sua Senhoria para a preservação dos sentimentos nativistas do povo gaúcho. A seguir, o Vereador Reginaldo Pujol, presidindo os trabalhos, convidou o Senhor Luiz de Barcelos Dexheimer a proceder à entrega do Prêmio Lupicínio Rodrigues ao Senhor João Batista Machado. Na ocasião, o Senhor Presidente registou o falecimento, hoje, do Senhor José Carlos Ribeiro Hudson, informando que os atos fúnebres ocorrerão na Capela Sete do Cemitério Ecumênico João XXIII. Após, o Senhor Presidente concedeu a palavra aos Senhores Paulo José Dorneles Pires e João Batista Machado, que agradeceram os Prêmios recebidos e procederam a apresentações artísticas, juntamente com a cantora Marlene Pastro. Após, o Senhor Presidente convidou os presentes para, em pé, ouvirem a execução do Hino Rio-Grandense e, nada mais havendo a tratar, agradeceu a presença de todos e declarou encerrados os trabalhos às dezenove horas e vinte e um minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Fernando Záchia, Reginaldo Pujol e Ervino Besson e secretariados pelo Vereador Ervino Besson. Do que eu, Ervino Besson, 3º Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pela Senhora 1ª Secretária e pelo Senhor Presidente.

 

 


O SR. PRESIDENTE (Fernando Záchia): Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene em homenagem à Semana Farroupilha bem como para a outorga do Prêmio Tradicionalista Glaucus Saraiva e do Prêmio Lupicínio Rodrigues.

Compõem a Mesa o Sr. César Iarto, representante do Sr. Prefeito Municipal de Porto Alegre; o Sr. Antônio Augusto Fagundes, representando o Movimento Tradicionalista Gaúcho; os Senhores Paulo Dorneles Pires e João Batista Machado, homenageados com os prêmios. Saudamos também as Sr.as e Srs. Vereadores, senhores presidentes e representantes de entidades de classe, tradicionalistas, demais autoridades presentes, senhoras e senhores.

Convidamos a todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional.

 

(Executa-se o Hino Nacional.)

 

O SR. PRESIDENTE (Fernando Záchia): Esta Sessão Solene é uma homenagem da Câmara de Porto Alegre à Semana Farroupilha, é dedicada aos heróis farroupilhas, à história gaúcha e ao bravo povo gaúcho. Esta Semana Farroupilha é dedicada para pensarmos no nosso passado, para termos a certeza de que as lutas dos nossos ancestrais gaúchos valeram a pena. Foi na luta que o Rio Grande forjou um povo altivo, independente e, acima de tudo, um povo que cultua o seu passado e tem esperança de um futuro melhor para os seus filhos.

Esta Sessão Solene está destinada, também, à outorga de dois Prêmios: O Prêmio Tradicionalista Glaucus Saraiva ao Sr. Paulo Dorneles Pires, nos termos do PR nº 021/01, de autoria do Ver. Elói Guimarães, e o Prêmio Artístico Lupicínio Rodrigues, ao Sr. João Batista Machado, nos termos do PR nº 004/01, de autoria do Ver. Reginaldo Pujol. São homenageados, portanto, dois legítimos representantes da nossa cultura rio-grandense.

O Ver. Adeli Sell está com a palavra e falará em nome da Bancada do PT.

 

O SR. ADELI SELL: Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Coube a mim a grande honra de falar neste ato solene em nome da minha Bancada, a Bancada do Partido dos Trabalhadores.

Neste dia, nesta Semana Farroupilha, neste mês nós estamos lembrando, como disse o Presidente Fernando Záchia, a história, o passado dos ancestrais gaúchos. Nós estamos lembrando a Semana Farroupilha de memoráveis lutas em defesa do nosso território, da nossa língua, da nossa tradição. E, também, nesses dias fomos todos abalados por incidentes, pelo terror, por mortes, por perdas de vidas, nós temos, portanto, que refletir um pouco sobre o nosso passado para entender o presente e poder, sem dúvida nenhuma, olhar para o horizonte com mais tranqüilidade e sonhar com uma sociedade mais justa, igualitária, com um estado soberano, como pensaram, planejaram e sonharam nossos heróis farroupilhas.

Talvez, para alguns - até pelos relatos da história - fica mais presente na memória os embates violentos da guerra - as mortes, o sangue, a violência - mas eu prefiro, neste momento, salientar que esta seja apenas uma parte da História e que, para nós, fique mais presente do que nunca os ideais, a busca incessante da independência, da autonomia, e jamais se dobrar aos ditames de um poder central ou de quem quer que seja: poderosos que querem dominar este ou aquele Estado, esta ou aquela nacionalidade, este ou aquele povo. Estamos falando de liberdade, falando da vontade que está imanente e presente no ser humano, de ser livre, de buscar o companheirismo e a solidariedade entre os povos, com suas diferenças. É esse ensinamento que nós temos que guardar no peito, no coração e transmitir para as futuras gerações.

Neste dia eu queria fazer um desafio a todos nós aqui, mas, particularmente, àqueles que têm buscado, em todos os momentos, preservar a cultura deste Estado, preservar aquilo que, comumente, se chama de “gauchismo”, para que nós possamos fazer, do mês de setembro, da Semana Farroupilha, um grande momento. E não devemos atrair apenas os nossos irmãos do Rio Grande, do pampa gaúcho, mas o pampa de todo o mundo. Aqui há uma tradição, aqui há uma cultura, onde existem valores que estão sendo guardados por anos e anos. Nós levaremos esses valores muito mais adiante ainda, transformando esta Cidade e este Estado em um palco vivo desta cultura, desta tradição e traremos para cá milhares de turistas, milhares de pessoas que vão aprender conosco um pouco da nossa história, um pouco da nossa tradição.

Por isso, nós temos orgulho e prazer por estar aqui e dividir com as cidadãs e os cidadãos de Porto Alegre este momento ímpar de festejar a data da Independência, a liberdade, de festejar a solidariedade entre as pessoas, entre os povos e poder sonhar com o futuro cada vez mais soberano para os nossos filhos.

Por isso, a nossa saudação em nome da Bancada do Partido dos Trabalhadores. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Fernando Záchia): Queríamos registrar, com muita alegria, a presença do Deputado Estadual Osmar Severo, aqui representando a Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul. (Palmas.)

Dentro do regime pluripartidário, que dirige esta Mesa Diretora, esta presidência convida o 2º Vice-Presidente da Casa, Ver. Reginaldo Pujol, da Bancada do PFL, para que possa presidir, também, esta Sessão histórica.

 

O SR. PRESIDENTE (Reginaldo Pujol): O Ver. João Carlos Nedel está com a palavra e falará em nome do PPB.

 

O SR. JOÃO CARLOS NEDEL: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Pouco povos, no mundo inteiro, e no Brasil de modo especial, têm uma motivação tão forte e tão autêntica para seus eventos especiais quanto tem o gaúcho, para realizar a celebração da sua data máxima.

Esta Casa, ao realizar esta Sessão Solene em homenagem à Semana Farroupilha, espelha o orgulho de todo gaúcho por suas tradições, forjadas com a têmpera dos fortes e dos bravos, fundamentadas no amor à Pátria e no culto ao trabalho, e consolidadas no destemor e na retidão de caráter de seu povo.

Apanágio de nosso povo - que não se satisfaz com as glórias e lembranças, mas faz delas o elemento propulsor de sua trajetória rumo a um futuro de paz e de felicidade - a tradição gaúcha é também uma manifestação cultural, tantas e tantas vezes retratada na poesia e na música campeiras.

A música é a mais universal de todas as linguagens, que comunica diretamente ao espírito, sem necessidade da compreensão racional e imediata. Quem gosta de música jamais padecerá de solidão. A poesia é a linguagem aberta das almas sensíveis às expressões mais profundas do sentir humano.

Quando música e poesia se unem, então, para trazer à tangência da sensibilidade coletiva o que de mais belo e puro existe na história e na tradição do povo gaúcho, o efeito é de uma graça e beleza irretocáveis, capazes de fazer vibrar intensamente mesmo o mais pétreo dos corações.

Isso me leva a segunda razão de nossa Sessão Solene, a homenagem que prestaremos a Paulinho Pires. Paulo José Dorneles Pires, poeta e compositor, acrescenta a essas duas virtudes, ainda, a de intérprete - e dos bons - de vários instrumentos, entre os quais o serrote, de difícil e raro domínio, cuja singularidade sonora enleva e comove.

Como se não bastasse isso, a história da participação de Paulinho Pires na história recente da música, da poesia e da tradição do Rio Grande, desde que, aos treze anos, escreveu seus primeiros versos e compôs suas primeiras músicas, passando pela Estância da Amizade, o memorável CTG 35, os Muripás e o Pagos da Saudade e muitos festivais de canção, é uma história de amor e de dedicação ao pago e de veneração ao que de mais simbólico nosso povo tem.

Tenho certeza de que o coração simples e modesto de Paulinho hoje se emociona fortemente, pois foi contemporâneo, amigo e companheiro de Glaucus Saraiva, este luminar representante do que de mais belo já foi escrito em prosa e verso sobre nossos costumes e tradições e, com muita justiça, hoje dá seu nome a este Prêmio que tanto honra aos que o recebem, como é o caso do Paulinho, nesta oportunidade.

Por esse motivo é que, em nome da Bancada do PPB - Partido Progressista Brasileiro - que tenho a honra de integrar, juntamente com os dignos Vereadores João Antonio Dib, Pedro Américo Leal e Beto Moesch, faço questão de incorporar-me, com todas as forças do meu coração, à homenagem que esta Casa presta a Paulinho Pires, por oportuna e feliz iniciativa de meu prezado amigo e colega Vereador Elói Guimarães, a quem cumprimento com satisfação.

Tenho a satisfação de conhecer Paulinho Pires há muitos anos. E os muitos anos em que o conheço representam os muitos anos em que o admiro e quero bem.

Estou certo de que o Paulinho, de um certo modo, fica pouco à vontade ao ver-se distinguido desta maneira, pois a grandeza de sua arte só encontra similar na grandeza de sua modéstia. Mas quero, Paulinho, que recebas esta homenagem da Câmara Municipal como uma homenagem de todo o povo de Porto Alegre, que te admira, que admira a tua arte e que te quer sempre como um intérprete da alma e do sentimento do povo gaúcho. Deus te abençoe. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Reginaldo Pujol): Em prosseguimento, com muita satisfação, passo a palavra para a representante do PMDB, a Ver.ª Clênia Maranhão.

 

A SRA. CLÊNIA MARANHÃO: Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) A Câmara Municipal de Porto Alegre incorporou em suas atividades uma Sessão Solene em comemoração à Semana Farroupilha, em comemoração ao ato mais significativo e inquietante do nosso Estado. O mais importante conflito interno vivido pelo Brasil do século XIX. Isso nos faz mais próximos da nossa história e nos põe em maior sintonia com as vitórias que deram à construção político-histórica do Rio Grande do Sul, a história construída com a ousadia dos homens e mulheres que desafiaram o poder constituído, porque acreditavam na independência de suas idéias, e que foram guiados pelos campos do Estado na defesa dos seus ideais.

A valentia e o heroísmo dos líderes do Movimento Farroupilha construíram, no inconsciente coletivo do nosso povo, o diferencial dos gaúchos, a forma diferente de fazer política. A retomada dessa data nos leva, mais uma vez, ao resgate da história, dos atos e das façanhas, dos que lutaram contra todas às questões que eles achavam injustas; lutaram contra as incertezas, as inseguranças; lutaram, porque acreditavam que era fundamental o fim da opressão política; porque acreditavam no direito de escolha dos seus líderes e se opunham à omissão dos que negavam os problemas locais.

É, portanto, a homenagem aos que resistiram e que foram, apesar de todas as dificuldades, capazes de acreditar na esperança, no sonho, na mudança e procuraram, de todas as formas, usando de toda a coragem e ousadia, os caminhos dessa mudança, inclusive em um enfrentamento armado, sangrento e tão difícil. Mas eles também foram capazes, depois de toda essa luta, de terem a grandiosidade de buscarem o entendimento e foi isso que permitiu a possibilidade de futuro para do Rio Grande do Sul.

Quando comemoramos esta data, após o dia 11 de setembro de 2001, é importante resgatarmos a faceta da Revolução Farroupilha, o quanto foi importante os atos de grandeza daqueles homens, muitos dos quais perderam os seus amigos, as suas famílias, e que foram capazes de assinar os acordos de entendimento. Talvez nós pudéssemos comparar que o poder central daquela época oprimia, como, hoje, o poder central do país mais poderoso, oprime o poder central de tantos países, desde o início deste século. Eu penso que a comemoração deste ano nos leva a essa analogia.

Esta Sessão Solene, este ano, tem uma outra característica, ela acontece quando nós percebemos que o Brasil inteiro se apropria da história do Rio Grande, que agora é tão bem divulgada no filme “Beto Perde a sua Alma”, que vai fazer com que os brasileiros se sintam mais próximos da nossa história, e que nós os gaúchos nos sintamos mais dentro do Brasil.

Tivemos ainda a sorte de, nesta Sessão Solene, podermos homenagear o Paulo Dorneles Pires e o João Batista Machado, o que, de uma forma fundamental, resgata a história e a alma dos gaúchos por intermédio da música e da poesia que talvez sejam os instrumentos elucidativos do que se passa no coração das pessoas. Obrigada aos dois homenageados pela rica e gratificante contribuição. Muito obrigada.

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE (Reginaldo Pujol): Com redobrada satisfação passo a palavra ao Ver. Elói Guimarães, proponente da outorga do Prêmio Tradicionalista Glaucus Saraiva e que, neste Ato, falará pela Bancada do seu Partido, o PTB e pelas Bancadas do PDT, PSB, PC do B e PL. V. Ex.ª dispõe do tempo especial de 10 minutos.

 

O SR. ELÓI GUIMARÃES: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Prezados homenageados, Paulo Dorneles Pires e o João Batista Machado, vemos, aqui, muitos amigos, parentes dos homenageados. Também, representando a Estância da Poesia Crioula, o Sr. Sérgio Padilha; representando o Clube Pitoco do Truco, o João Rodrigues; as nossas grandes cantoras, a Fátima e a Marlene Pastro; o amigo Wanderlan Moura, da Rádio Liberdade; enfim, as pessoas vinculadas ao Movimento Tradicionalista Gaúcho, representando, aqui, os nossos CTGs, o “35”, o “Tiaraju”, nesta solenidade.

Nós celebramos este ato rememorando a Revolução Farroupilha e, dentro deste espectro da homenagem, também se inserem homenagens específicas, uma delas o Prêmio Tradicionalista Glaucus Saraiva que este ano nos correspondeu. Escolher dentre uma legião imensa de valores que possuímos, um grande nome, que é o Paulinho - assim é o tratamento que o Movimento Gaúcho, enfim, as pessoas o tratam: Paulinho. O Paulo José Dorneles Pires, para muitos o Paulinho do Serrote. Essa proposta feita por mim, evidentemente tem o respaldo unânime da Casa. Também o Ver. Reginaldo Pujol homenageia com o Prêmio Artístico Lupicínio Rodrigues esta grande figura, o poeta, o compositor, João Batista Machado, que tem, dentre tantas, uma letra que transcende pela sua profundidade. Ele é o criador de uma música que todos nós conhecemos, “O Guri”, que evidentemente, sobre o Machado, o Ver. Reginaldo Pujol vai-se demorar.

Eu me demoro um pouco falando do Paulinho e tendo por pano de fundo, por céu, exatamente a evocação Farroupilha, a Saga Farroupilha, que temos, ao longo do tempo, reflexionado sobre esses acontecimentos.

A História Gaúcha - quando a gente fala de gaúcho, e temos dito que ser gaúcho é um estado de espírito - são tão gaúchos aqueles que usam bota, bombacha, a indumentária gaúcha, enfim, quanto aqueles que não as usam, desde que estejam compenetrados desse valor quase que místico do gaúcho, com esta carga psicológica de valores que constituem esse homem, essa mulher, essa prenda, esse cuera que habitou ou habita a parte meridional do Brasil, como invariavelmente se diz, esse verdadeiro garrão do Brasil.

Então, os acontecimentos que demarcaram um período da História Farroupilha construíram, elaboraram, no inconsciente, na formação do homem e da mulher sul-rio-grandense, penetrado-os desses valores transcendentais.

Nós vivemos momentos extremamente delicados da civilização, da humanidade, quando todos ainda estão sob o impacto dos horrendos, tremendos acontecimentos a que assistimos.

Então, se analisarmos a História Farroupilha, a história dos Farrapos, que se constituiu de lutas, nós vamos concluir e ver que se buscava, sim, a paz. A liberdade, a justiça e a paz eram legendas do grande movimento que demarcou a historicidade gaúcha. A liberdade e a paz estavam exatamente na cabeça de todos aqueles que se envolveram nos confrontos de 1935.

Construímos, ao longo da História, um perfil - o perfil do gaúcho - o homem comprometido basicamente com a liberdade. O gaúcho é sinônimo de liberdade. O gaúcho é sinônimo de paz. O gaúcho é sinônimo de construção, gaúcho no sentido sociológico, que incorpora, evidentemente, todos aqueles que, de certa forma, morando aqui ou não, mas sendo daqui, interpretam esse sentimento de pátria, de brasilidade.

E quando se fala em pátria e em brasilidade, nós temos sempre que citar o magnífico exemplo da brasilidade de David Canabarro, porque, num determinado momento, pretendeu-se pichar-se o gaúcho, sim, e o Movimento Farroupilha dizendo que são separatistas. Absolutamente, não! Pelo contrário, os gaúchos são, indiscutivelmente, integracionistas, pois quando o ditador Rosas ofereceu armas, cavalo e munição aos Farroupilhas, a resposta foi pronta. E foi imediata. Estavam os Farroupilhas com a sua cavalaria dizimada, com as suas forças acabadas, quando, na voz e no brado de David Canabarro, se escreveu essa legenda que está embutida na nossa consciência, na nossa formação, na nossa maneira de ser: “O primeiro dos vossos soldados que atravessar a fronteira, com o seu sangue, assinaremos a paz com os imperiais”.

O gaúcho teve muitas escaramuças históricas. Durante 200 anos, dificilmente as mulheres tiravam o luto, tal a quantidade de refregas que se fez nessa estremadura da Pátria para que fôssemos brasileiros. É aquilo que reiteradamente se diz: nós não somos brasileiros por acidente; nós, gaúchos, somos brasileiros, e optamos pela brasilidade a ferro e fogo, a ponta de espada! Optamos! Não foi nenhum tratado que fez com que nós nos incorporássemos ao Brasil, mas, sim a garra da mulher e do homem sul-rio-grandenses.

A Revolução Farroupilha é o grande acontecimento. Decorrido já um século e meio, Nico, essa potencialidade que se nota nos caminhos do Rio Grande, nas canhadas, nas coxilhas, no pampa, toda essa vitalidade em torno desses grandes valores permanece e se propaga...

Passei um pouco do meu tempo, Sr. Presidente, vênia a V. Ex.ª para dizer que eu preciso...

 

O SR. PRESIDENTE (Reginaldo Pujol): V. Ex.ª tem a tolerância da Casa, hoje, pelo brilho do seu pronunciamento.

 

O SR. ELÓI GUIMARÃES: Eu sou extremamente grato. Para me situar agora um pouco na homenagem a um farroupilha, que é o Paulinho Pires. Grandes nomes já receberam aqui o Prêmio Tradicionalista Glaucus Saraiva. Essa grande figura, que foi o Glaucus Saraiva, foi amigo do Paulinho e do Machado. O Glaucus foi aquela genialidade que produziu esta obra que é antológica. Aqueles versos que o Glaucus nos deixou:

“Amargo-doce que sorvo,/Num beijo em lábios de prata, Tens o perfume da mata,/Molhada pelo sereno. E a cuia, seio moreno, Que passa de mão em mão, Traduz o meu chimarrão,/Em sua simplicidade,/A velha hospitalidade/Da gente do meu rincão.

Trazes a mim a lembrança,/Neste teu sabor selvagem,/A mística beberagem/ Do feiticeiro Charrua./O perfil da lança nua,/Encravada na coxilha,/Apontando firme a trilha,/Por onde rolou a história,/Empoeirada de glória,/Das tradições farroupilhas.

 

Em teus últimos arrancos,/No ronco do teu findar,/Ouço um potro corcovear/Na imensidão deste pampa./Em minha mente se estampa,/Reboando nos confins/A voz febril dos clarins,/Repenicando: avançar!

 

Então, me fico a pensar,/Apertando o lábio assim,/Que o amargo que está no fim,/Que a seiva forte que sinto/É o sangue de 35,/Que volta verde prá mim.”

Então, estamos homenageando estes dois valores, produtores da nossa cultura, que são o Paulinho e o Machado. O Paulinho nasceu nas barrancas do Jacuí. Tenho dito que o Paulinho tem contribuições magníficas. Eles são poetas, são cantores, instrumentistas e, exatamente na sua arte e na sua cultura, fazem uma verdadeira reza. É a reza da paz, sim. Porque, se examinarmos o trabalho dos dois - o Pujol se demorará no Machado - veremos que o Paulinho é dos grandes cantores do tema em defesa do meio ambiente. Tem uma contribuição, Sr. Presidente, que, permita-me, vou lê-la rapidamente. O Paulinho produz algo que reputo como a melhor coisa que já se escreveu na defesa do rio, por exemplo, da ecologia. É quando ele faz a Súplica do Rio:

 

“Ajoelhado na barranca do meu rio/Onde triste lavo roupa/Prá vestir a solidão/O caniço de alfinete/Que eu pescava lambari/São retalhos da infância/Transformados em saudade/Que juntando fiz os versos/Prá compor esta canção

 

Não deixem morrer meu rio,/Me ajudem por favor,/O biguá que mergulhava já morreu/Aguapé não dá mais flor.

 

Momentos de angústia/Ao pensares tanto só/Vejo o rio da minha infância/A correr buscando o mar./Sinto sede de água pura/Quando a natureza chora/No silêncio das barrancas/Me pedindo prá cantar.

 

Vendo as águas poluídas/Do meu canto faço reza./A viola na cantiga/É o meu canto de oração./Quero-quero está morrendo/Pelas várzeas do meu canto./O seu grito é um lamento/Suplicando neste chão”.

 

O nosso tempo, Sr. Presidente, é “curto como coice de porco”, mas nós queremos dizer, no remate do grande momento que nós vivemos: a Câmara Municipal de Porto Alegre, que, pela unanimidade dos seus integrantes, aprovou esta homenagem para os dois poetas, compositores, tem um compromisso muito sério, Nico, com o gauchismo. Aqui reinam as tradições gaúchas no seu mais belo significado.

Recebam todos, em especial o Paulo e o Machado, a nossa homenagem pelo que têm feito pela paz. Quando se compõe com a qualidade deles, estão fazendo orações e rezas pela paz! É o que nós hoje oferecemos: que essa nossa fala seja na busca da paz e do entendimento; que o mundo se volte para o que ele tem de belo, para as suas qualidades, e deixe de lado, distante, muito longe, acontecimentos como o mundo, infelizmente, acabou de assistir. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Reginaldo Pujol): Quero cumprimentar o Ver. Elói Guimarães, cuja presença na tribuna sempre é motivo de muito gáudio para todos nós, mesmo quando inflamado extrapola o tempo regimental, o que é plenamente justificado neste dia. Quero convidá-lo, Ver. Elói Guimarães, a fazer a entrega ao homenageado Paulo José Dorneles Pires, o nosso Paulinho, do Diploma correspondente ao Prêmio Tradicionalista Glaucus Saraiva.

 

(É feita a entrega do Prêmio.) (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE (Reginaldo Pujol): Cumprindo orientação que me foi determinada pelo Presidente da Casa, Ver. Fernando Záchia, e dentro do espírito pluripartidário que rege o comando deste Legislativo, eu quero ter a honra e o prazer de convidar o Ver. Ervino Besson a assumir a presidência dos trabalhos, permitindo-nos, desta forma, ocupar a tribuna para fazer a nossa manifestação.

 

O SR. PRESIDENTE (Ervino Besson): O Ver. Reginaldo Pujol está com a palavra e falará em nome da Bancada do PFL.

 

O SR. REGINALDO PUJOL: Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) É com muita alegria que nós participamos deste ato no dia de hoje, especialmente considerando todo o histórico que envolve esse processo que já se alonga no tempo, penso eu, desde o momento em que, inspirado por colaboradores e por amigos, entendemos, ainda nos idos de 1996, oficializar a Semana Farroupilha, incluindo obrigatoriamente no seu calendário, a realização desta Sessão Solene destinada a manter viva a chama votiva da tradição.

É por isso que eu me sinto muito honrado em dela participar, especialmente quando para aqui acorrem pessoas como o João Rodrigues, do Clube Pitoco; o Sérgio Padilha, da Estância da Poesia Crioula; o meu grande amigo Alencar Feijó da Silva, do CTG 35; o querido Chico Mena, que, é o nosso Patrão-mor do CTG da Câmara, é o Patrão do CTG Maurício Sirotsky; o Nei Machado; o meu queridíssimo amigo, meu referencial, Juvenal Félix; a Fátima Ximenes; a Marlene Pastro; o Villela; o Dallegrave; o São Borja. Todos vocês dão a esta solenidade o porte que ela merece ter, merece porque cultivar a Revolução Farroupilha constitui-se de um fato que diz respeito com a alma do gaúcho e por que não dizer com a alma do brasileiro, pois a Revolução Farroupilha constitui-se num dos mais gloriosos movimentos da história da pátria na sua permanente busca de uma verdadeira emancipação política e econômica de toda a gente que moureja neste País.

Com efeito, os ideais sustentados pelos heróis de 1935 continuam, hoje, mais vivos do que nunca, pois a liberdade, a igualdade e a fraternidade são valores que continuam a ser perseguidos por aqueles que estão comprometidos com a luta pela formação de uma nação socialmente justa, economicamente livre, politicamente soberana e culturalmente desenvolvida.

A Revolução Farroupilha foi, equivocadamente e por muito tempo, apresentada como sendo um movimento separatista que pretendia desvincular o Rio Grande do resto do Brasil. Desmistificar essas infundadas afirmações é uma tarefa a ser desenvolvida junto aos jovens e também perante a opinião pública brasileira.

Nesse sentido, impõe que se esclareça que o culto à tradição do Rio Grande não se limita a usar bombacha, a tocar a gaita ponto, a beber o chimarrão ou simplesmente andar a cavalo. De fato, o Movimento Tradicionalista que, a partir de 1947, ressurge no Rio Grande do Sul tem acentuado essas características do nosso vestuário e do nosso modo de ser, características essas que fazem parte da cultura gaúcha, mas também têm ensejado o estudo sobre o evento farroupilha, suas causas, sua origem e suas conseqüências. Nesse particular, esta Casa, que recebe, no dia de hoje, algumas figuras que são diretamente responsáveis por essa sacudida da cultura dos pampas, não podia omitir, nesta hora, o nome desse meu irmão Antônio Augusto Fagundes que, com a sua cultura, facilita o nosso trabalho e pavimenta a estrada pela qual nós vamos ter, coeso e bem construído, o edifício da nossa verdadeira cultura, a cultura do Rio Grande, a cultura nativista. (Palmas.)

O presente momento, esta Sessão Solene, este ato, tem objetivo de propiciar aos gaúchos, em geral e aos jovens em especial, a tomarem conhecimento do alto significado do fato histórico de 1935, bem como de seus fundamentos filosóficos que se constituem, indubitavelmente, em verdadeira aurora precursora nos ideais republicanos e democráticos da gente, do povo do Rio Grande e do País. A luta contra o excessivo e abusivo centralismo político e econômico, foi a verdadeira base sobre a qual se edificou o trabalho dos farroupilhas, e é o fundamento em cima do qual se erguerá o edifício da federação brasileira, que só encontrará sua plena afirmação na medida em que os ideais dos Farrapos sejam divulgados, entendidos e proclamados por toda a nação brasileira.

Eu me sinto muito gratificado, quando vejo nesta Casa vozes oriundas dos mais diversos pontos do Rio Grande e do Brasil, do Nordeste, de Santa Catarina, que se integram conosco neste momento de evocação cívica. Eu percebo, Elói, que as coisas começam a tomar o seu normal destino e que o Brasil, hoje, já entende que ser gaúcho não é uma postura anti-nacional, muito antes pelo contrário, ser gaúcho é dizer que a gente quer construir um País onde as liberdades democráticas, a justiça social e onde a soberania política sejam conquistas permanentes e não apenas um anseio, um devaneio.

Foi por isso que nossos ancestrais encheram de sangue as coxilhas do Rio Grande. Não lhes faltou dignidade de, no momento oportuno, selarem o “Poncho Verde”, assinarem a histórica paz celebrada com o Duque de Caxias. Nessa predisposição de lutar, quando necessário; de dialogar, quando a inteligência assim determina e de construir sempre os seus ideais no permanente, está todo esse amálgama que diz respeito ao Rio Grande, à sua cultura e à sua gente.

Assim, meus senhores e minhas senhoras, preservar a tradição do Rio Grande, preservar a tradição Farroupilha, constitui-se em um gesto de brasilidade e sua reafirmação não representará, nunca, a negação do patriotismo dos gaúchos, comprovado ao longo da história em reiteradas oportunidades, alguma das quais acentuada no dia de hoje pelo Ver. Elói Guimarães.

Foi assim pensando que a gente trabalhou, os gaúchos com assento nesta Casa, os brasileiros com assento nesta Casa, e se resolveu que nós precisávamos evidenciar para os nossos próximos alguns exemplos. E nessa linha que se trabalhou, Antônio Augusto, deu como fruto a resolução que gerou o Prêmio Tradicionalista Glaucus Saraiva, que tu és o primeiro detentor.

Nessa mesma linha, o Luís Menezes, o meu conterrâneo do Quaraí; essa cultura gauchesca, Luís Carlos Barbosa Lessa; a querida Elma Santana, aqui conosco, e o Mozart Pereira Soares, foram distinguidos com este Prêmio, nos anos que antecedem a esta Sessão Solene.

Neste ano, o inteligente Ver. Elói Guimarães introduz nessa galeria um gaúcho de Porto Alegre, da Ilha da Pintada, das barrancas do Jacuí, ou do Taquari, nascido ali na Ilha do Cônsul, o Paulo José Dorneles Pires, o Paulinho Pires. O homem da "Súplica do Rio". Esse duplo feito de gaúcho e de preservacionista. Sobre ele, Elói Guimarães, com a tua eloqüência tu já falaste. Permita-nos, que sem ser egoísta, me dirija com muita atenção e, sobretudo com muito carinho para o João Batista Machado esse cuera lá das barrancas do Ibicuí, esse misto de alegretense e uruguaianense.

Eu pedi socorro ao Antonio Augusto - pedi ao Antônio Augusto que me descrevesse o nosso homenageado de hoje. Porque o João não é meu homenageado; o João não é o homenageado desta Casa, o João é o homenageado de todos os seus amigos. Porque eu nunca pensei, Elói Guimarães, que uma proposição minha - que o Luiz Dexheimer para variar me trouxe - pudesse repercutir da forma que repercutiu.

O nosso homenageado, o João Batista Machado, é um descendente de tradicionais famílias campeiras da fronteira Oeste do nosso Estado. Tem o nome do avô materno, em cujos campos nasceu no Inhanduí, 5º Distrito do Alegrete. Mas é a rigor um aquerenciado de Uruguaiana. Nos campos do pai Júlio Machado, um dos maiores gaúchos e líder rural do belo Município fronteirista, João aprendeu a amar os campos, seus bichos, seus animais e suas coisas e conhecer a intimidade de sua gente. E se fez ainda adolescente, domador de burros, e gaiteiro; “ensimesmado” e quieto como o pai - é bom que se acentue, que foi sempre seu modelo nas duas artes, que sempre revelou grande habilidade. E ao se mudar para a Cidade de Uruguaiana, a fim de estudar no famoso, glorioso, inesquecível Colégio União, vai virar líder tradicionalista, patrão de CTG, diretor de conjunto gauchesco e apresentador de programa de rádio na histórica Rádio Charrua. Foi sua vinda, porém, para Porto Alegre, que determinou a revelação de uma outra faceta de sua personalidade de multiartista. João Batista Machado, “guasqueado” pela saudade, torna-se poeta. E que poeta! É dele a letra antológica da canção “Guri”, hoje nome de troféu e uma das três mais famosas canções gauchescas. Leiam esses versos e ali está João Batista Machado de corpo inteiro, de corpo e alma. Eu pretendia que a Fátima ou a Marlene fizesse essa leitura. Fui desaconselhado pelo cerimonial. Mas não posso, ao menos, deixar de, concluindo a minha apresentação, ler a primeira das estrofes do “Guri.”

(Lê.) “Das roupas velhas do pai/ queria que a mãe fizesse/uma mala de garupa,/uma bombacha e me desse. Queria boinas, alpargatas/e um cachorro companheiro,/para me ajudar a botar as vacas/no meu petiço sogueiro.

Hei de ter uma tabuada/e o meu livro ‘Queres Ler?’/Vou aprender a fazer as contas/e algum bilhete escrever,/Pra que a filha do seu Bento/saiba que ela é o meu bem-querer,/e, se não for por escrito,/eu não me animo a dizer.

Quero gaita de oito baixos/para ver o ronco que sai./Botas feitio do Alegrete,/esporas são do Ibiracai./Lenço vermelho e guaiacas/compradas lá no Uruguai/ para que digam quando eu passe:/saiu igualzinho ao pai.

 

E, se Deus não achar muito/tanta coisa que eu pedi,/não deixe que eu me separe/desse rancho onde nasci./...”.

Não deixe que nada no mundo nos separe do Rio Grande onde nascemos! Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Ervino Besson): Passo, neste momento, a Presidência da Casa ao Ver. Reginaldo Pujol. Foi com muita honra que esta Casa hoje homenageia essa querida família gaúcha.

 

O SR. PRESIDENTE (Reginaldo Pujol): Cabe-me agora a honra de entregar ao nosso homenageado o diploma que lhe é concedido nos termos da Resolução nº 810, de 24 de outubro de 1984, Sr. João Batista Machado, por sua destacada atenção no cenário artístico rio-grandense e brasileiro.

Eu vou solicitar, com a permissão de todos, que o Dr. Luiz de Barcelos Dexheimer, Coordenador de Eventos da Casa, faça a entrega do Diploma, ele que foi o meu inspirador da homenagem, ao Sr. João Batista Machado.

 

(Procede-se à entrega do Diploma.) (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE (Reginaldo Pujol): Eu sei que este momento não é o mais adequado, mas é preciso informar a esta Casa o passamento do grande poeta e escritor José Carlos Ribeiro Hudson. O velório está sendo realizado na Capela 7, do Cemitério Ecumênico João XXIII. O Ver. João Carlos Nedel solicitou que eu desse essa informação.

O Sr. Paulo Dorneles Pires está com a palavra, no dia em que recebe o Título Honorífico Glaucus Saraiva.

 

O SR. PAULO DORNELES PIRES: Este é um dos momentos em que ficamos muito felizes. Eu agora tenho dois momentos: fico feliz e, ao mesmo tempo, aborrecido. Ficaria se não pensasse da maneira que penso, ou seja, que esta vida é um trecho, estamos vindo de algum lugar, estamos aqui de passagem, e algum dia partiremos para outra, quem sabe, lá, num plano superior. Assim, agora que o Presidente Pujol nos dá uma notícia assim, em cima da hora, dentro desta homenagem que estamos prestando, eu já dei uma volta de cento e oitenta graus, quem sabe no que eu faria aqui, se não ouvisse essa notícia. Mas, antes de eu pegar o violão e cantar uma canção, eu gostaria de já entregar e incluir nesta homenagem que estamos prestando, a homenagem também ao amigo que parte, grande Ribeiro Hudson, grande poeta. Lembro da Estância da Poesia Crioula. E, aqui, correndo os olhos à volta, encontro familiares de outros grandes poetas que já estão por lá, como, por exemplo, Peri de Castro e tantos outros que já partiram. Então, nesta homenagem que hoje estão prestando a mim e ao companheiro João Machado, eu gostaria que registrassem a minha homenagem, transferindo para esses companheiros que partiram. Inclusive, hoje, se o meu velho, que também partiu com seus 94 anos de vida, estivesse vivo, estaria completando mais uma primavera, porque fazia aniversário no dia 18 de setembro. Então, seria próprio que os homenageassem também, já que, fisicamente, não poderão estar por aqui, mas espiritualmente tenho certeza de que eles estão aqui nos homenageando.

Assim sendo, eu gostaria de transferir esta homenagem, dizendo apenas um verso que escrevemos certa vez, chimarreando pelas casas e começando a pensar e pensando numa quantidade enorme de amigos que haviam partido, inclusive, o que nos deu o título a este Prêmio, o Glaucus Saraiva, eu resolvi dizer assim:

“Quando me abanco para matear solito, afrouxo as rédeas do meu pensamento e me deparo em horizontes largos com tropilhas gordas de recordações, onde revejo, inclusive, amigos que já se foram para a querência eterna, lidar quem sabe de peão por dia, na Estância Grande de Nosso Senhor, onde o Capataz tem o nome de São Pedro e o Patrão é o melhor e mais justo de todos os patrões. Por isso, não me preocupo com o outro mundo, para onde tantos amigos já se foram, quem sabe até para viver melhor em plano superior de outra vida. Eu só desejo, ao chegar meu dia, uma cuia de mate bem cevada, correndo à volta, em forma de conforto entre os amigos que aqui ficarem, pois, o chimarrão substitui o choro, a lágrima e a saudade em momentos de chegada ou de partida. Quero chegar na Estância lá do céu, dizendo a todos que prá lá se foram que o Rio Grande continua chimarreando com a gauchada sempre reunida. Dá licença, Patrão Santo, aqui estou às tuas ordens para qualquer lida, tranqüilo, contente, estou feliz, pois foi sublime, até bonito lá, na Terra, entre a gauchada chimarreando, o derradeiro adeus da minha despedida”.

A minha gratidão vai ficar através da música e do verso, das duas coisas. Eu acho que nasci para isso! Gostaria de passar aos senhores a minha fraterna gratidão. Vou fazer uma canção de violão e um solo de serrote. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(O Sr. Paulo Dorneles Pires canta a “Súplica do Rio”, acompanhado do violão e interpreta Ave Maria de Gounod ao serrote.) (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Reginaldo Pujol): Cumprimento o Paulinho e passo a palavra ao segundo homenageado do dia, Sr. João Batista Machado.

 

O SR. JOÃO BATISTA MACHADO: Em primeiro lugar, meu agradecimento ao Ver. Reginaldo Pujol, um homem da fronteira, como eu, pela deferência especial ao sugerir este Prêmio à minha pessoa. Também ao Luiz de Barcelos Dexheimer, que teve uma grande colaboração a esse respeito. Meu grande abraço a todas as senhoras e senhores, aos meus amigos e amigas que estão aqui.

Pediram-me para cantar o “Guri”, que eu acho que motivou esta premiação. Não há nada que eu faça que supere o “Guri”. O pessoal já olha e diz: “É, mas é pior do que o ‘Guri’”. Então, ficou o “Guri”. Agradeço. Pediram-me para cantar, mas eu não sei a letra. Então, eu peço à querida e excepcional cantora, que eu prezo muito pela pessoa e pela grande intérprete que ela é: Marlene Pastro, ela vai me tirar desta situação. Eu não sou orador, nem tenho essa baita sensibilidade que o Paulinho Pires tem – ele me emocionou; é um grande amigo, uma grande pessoa e é o mais suave “carpinteiro” da música gaúcha, tanto é que ele toca serrote. Então, Marlene Pastro, por favor, interprete para nós “Guri”.

 

O SR. PRESIDENTE (Reginaldo Pujol): Agora vamos ter um ato de solidariedade. Um entra com o violão, outro com a cantoria, outro com a música.

 

(Marlene Pastro interpreta “Guri”, acompanhada por Paulinho Pires ao violão.)

 

O SR. PRESIDENTE (Reginaldo Pujol) O Sr. João Batista Machado continua com a palavra.

 

O SR. JOÃO BATISTA MACHADO: Quanto mais tempo se vive, mais tiramos conclusões. Se somarmos às ações do trabalho o pensar bem, se diariamente um amém de alguém nos calar profundo, havendo muita paciência, fé, esperança e respeito, veremos que desse jeito dá, dá pátria para todo mundo. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Reginaldo Pujol): Esta nossa Sessão Solene, que teve alguns atos improvisados, muito próprios de uma reunião de gaudérios e de gaúchos, mas que foi um momento muito alegre para todos nós, de grande envolvimento, obviamente devemos creditar à qualidade dos nossos homenageados, que, seguramente, num improviso maravilhoso, contando com a colaboração da Marlene, nos brindaram com momentos especiais, nesta Sessão Solene da Câmara Municipal que, além de Solene, foi descontraída, e muito gauchesca.

Para encerrar esta histórica Sessão Solene convido a todos para, em pé, ouvirmos o Hino do Rio Grande.

 

(Executa-se o Hino Rio-Grandense.)

 

O SR. PRESIDENTE (Reginaldo Pujol): Agradecemos a todos pela presença, especialmente os familiares dos nossos homenageados.

Ao encerrar esta Sessão Solene, conclamo a todos para que, em alto e bom som, repitam: Viva o Rio Grande e Viva o Brasil! (Palmas.)

Estão encerrados os trabalhos da presente Sessão Solene.

 

(Encerra-se a Sessão às 19h21min.)

 

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